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Olho Vivo

Case de UX Research para engajamento cívico em Palmital/SP

🧗‍♂️ O desafio

Em Palmital/SP, percebi que muitos moradores confundem as funções do prefeito e dos vereadores. Poucos sabem exatamente o que cobrar de cada autoridade, e quase ninguém acompanha de forma sistemática as promessas feitas em campanha.

Essa lacuna de informação e engajamento cria um ciclo de desconfiança, apatia política e baixa participação cidadã.

🌍 Contexto

  • População: 19 mil habitantes

  • Apenas 38% da população ocupada

  • Educação básica abaixo da média do estado (IBGE)

G1. Promessas dos políticos: prefeitos cumpriram 15% dos compromissos de campanha após 1 ano de mandato. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2022/01/04/promessas-dos-politicos-prefeitos-cumpriram-15percent-dos-compromissos-de-campanha-apos-1-ano-de-mandato.ghtml
SENADO FEDERAL. Falta de conhecimento do eleitor sobre o sistema político. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2022/03/17/falta-conhecimento-do-eleitor-sobre-o-sistema-politico-aponta-datasenado.
IBGE. Informações estatísticas sobre a população de Palmital/SP. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/palmital/panorama.
IBGE. Informações estatísticas sobre a economia de Palmital/SP. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/palmital/panorama.
IBGE. Informações estatísticas sobre a educação de Palmital/SP. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/palmital/panorama.

🔎 Interpretação

Isso é “estranho” porque o esperado seria: PIB per capita razoável → bons indicadores educacionais.

Mas Palmital mostra o contrário: tem economia relativamente estável, mas educação básica aquém da média, principalmente quando comparada a outros municípios de SP.

Isso reforça que o problema de compreensão política no seu projeto não está apenas no acesso à escola, mas:

  • No conteúdo da educação cívica (que quase não existe na grade);

  • Na baixa retenção e qualidade no ensino fundamental II;

  • E no distanciamento entre aprendizado escolar e prática cidadã.

🎯 Objetivo da pesquisa

Compreender como os cidadãos de Palmital percebem a política municipal e identificar oportunidades de promover reeducação política, estimulando o engajamento e a participação cidadã.

🧩 Estrutura do problema (5W2H)

Para organizar a pesquisa de forma estratégica, utilizei o framework 5W2H.

Escolhi essa ferramenta porque ela me permite criar uma visão clara e objetiva do projeto antes da coleta de dados, funcionando quase como um briefing expandido. Assim, consegui alinhar o que investigar, por que isso importa e como conduzir a pesquisa de forma pragmática.

🔍 Hipóteses iniciais

Antes de coletar dados, formulei algumas hipóteses com base em observações de campo, desk research e análise do contexto local.
Levantar hipóteses foi fundamental porque estabeleceu um ponto de partida: não eram certezas, mas ideias a serem confirmadas ou refutadas pela pesquisa.

Essas hipóteses surgiram da combinação de diferentes fontes:

  • Observação local: conversas informais com moradores revelaram confusão sobre o papel de prefeitos e vereadores.

  • Dados secundários: pesquisas nacionais (IBGE, Datafolha, Atlas da Democracia) já apontam baixa confiança na política e pouco uso de canais oficiais.

  • Comportamento digital: a análise preliminar mostrou que redes sociais (WhatsApp e Facebook) são usadas com mais frequência do que sites institucionais.

  • Contexto socioeconômico: indicadores de renda e acesso limitado a tecnologia reforçaram a hipótese de que ferramentas simples e gratuitas seriam mais aceitas.

 

Com base nisso, levantei as seguintes hipóteses:

  1. A população não entende claramente o que faz um prefeito.

  2. A população não entende claramente o que faz um vereador.

  3. Redes sociais são a principal fonte de informação política.

  4. Existe baixa confiança nos políticos locais.

  5. Ferramentas simples e gratuitas teriam alta aceitação.

❓ Pergunta de Design (HMW)

Para transformar o problema em oportunidade de design, utilizei o framework How Might We (HMW).

Segundo a Interaction Design Foundation (IxDF), um bom HMW combina ação + usuário + resultado desejado, o que garante clareza e direcionamento para a ideação.

👉 “Como poderíamos ajudar os cidadãos de Palmital a compreender e acompanhar o trabalho do prefeito e vereadores de forma simples, acessível e confiável?”

Além desse enunciado central, explorei variações como:

  • Como poderíamos tornar claras as diferenças entre prefeito e vereadores?

  • Como poderíamos aumentar a confiança nas informações políticas locais?

Esse formato equilibra foco estratégico (um HMW principal) e amplitude exploratória (variações secundárias).

📊 Metodologia

Para garantir uma visão ampla e confiável, utilizei uma abordagem mista, combinando métodos quantitativos e qualitativos. Essa estratégia equilibra padrões gerais (survey) com percepções profundas (entrevistas).

  • Quantitativo (Survey)

    • 50 respostas coletadas.

    • 12 perguntas sobre acompanhamento político, confiança e canais de informação.

    • Objetivo: mapear tendências e medir a extensão dos problemas percebidos.

  • Qualitativo (Entrevistas)

    • 8 moradores entrevistados, com perfis variados em idade, ocupação e engajamento político.

    • Entrevistas semiestruturadas, permitindo explorar percepções além do questionário.

    • Segui a recomendação da Nielsen Norman Group, que destacam que 5 entrevistas já revelam a maioria dos padrões de comportamento.

    • A opção por 8 entrevistas foi intencional, buscando mais diversidade de perspectivas para enriquecer os insights.

  • Ferramentas utilizadas

    • Google Forms (survey),

    • Entrevistas presenciais na rua,

    • Figjam e Planilhas para análise e organização dos dados.

Registro em campo

Para além das ferramentas digitais, realizei entrevistas presenciais com moradores de Palmital. Os registros abaixo (editados para preservar a identidade dos participantes) reforçam a aplicação prática da pesquisa.

🧩 Análise com Affinity Diagram

Para organizar as falas das entrevistas e transformar dados dispersos em padrões claros, utilizei o Affinity Diagram.

Esse método me permitiu agrupar percepções semelhantes e identificar as dores mais recorrentes entre os moradores.

Veja no vídeo abaixo o processo completo de agrupamento — do caos inicial de post-its até a consolidação dos clusters principais.

Esse vídeo está demonstrando a construção do Mapa de Afinidade, no Figjam

💡Principais insights

 

O uso do Affinity Diagram trouxe clareza para pontos que já apareciam como hipóteses, mas agora foram confirmados com base nos dados:

  • Cidadãos confundem papéis de prefeito e vereador.

  • Existe uma desconfiança estrutural em relação à política local.

  • Poucos utilizam canais oficiais, preferindo rádio ou conversas presenciais.

  • Interfaces simples são condição essencial para engajamento.

  • Segmentos etários apresentam necessidades e barreiras diferentes.

🔄 Comparação: Hipóteses x Insights

Logo no início da pesquisa, levantei hipóteses para guiar a investigação. Após consolidar os dados com entrevistas e survey, pude verificar se essas hipóteses se confirmavam ou precisavam ser ajustadas.

 

Hipótese 1 — Falta de clareza sobre funções políticas

Insight: Confirmada. Muitos entrevistados confundem os papéis de prefeito e vereador, evidenciando a necessidade de conteúdo educativo acessível.

 

 

Hipótese 2 — Desconfiança nos representantes

Insight: Confirmada. A percepção de promessas não cumpridas apareceu em diferentes faixas etárias, reforçando que qualquer solução precisa trabalhar com transparência como valor central.

 

 

Hipótese 3 — Baixo uso de canais oficiais

Insight: Confirmada e ampliada. Além de poucos acessarem o site da prefeitura (12%), descobri que rádio e conversas locais são meios muito mais presentes no dia a dia.

 

 

Hipótese 4 — Interesse em ferramentas digitais

Insight: Parcial. Jovens mostraram abertura para apps, mas adultos foram mais céticos e idosos preferiram canais tradicionais.

 

 

💡 Nota importante: Dentro do escopo deste projeto, não é viável investir em soluções offline (como materiais impressos ou campanhas em rádio) devido a limitações financeiras e de execução. Portanto, optei por focar em soluções digitais que atendam principalmente os jovens e adultos mais conectados, sem ignorar que o desafio da acessibilidade para idosos segue sendo um ponto crucial em cenários reais.

⚖️ Priorização — Matriz Impacto × Esforço

Após consolidar hipóteses e insights das entrevistas, precisei escolher quais soluções realmente valiam o investimento de tempo e energia dentro da realidade do projeto (individual e sem orçamento).

Matriz Impacto × Esforço construída a partir dos insights da pesquisa

💡 Principais aprendizados

  • Essencial: campanhas simples em redes sociais, distribuição no WhatsApp e um checklist em PDF são soluções rápidas e de alto retorno imediato.

  • Estratégico: o protótipo no Figma para acompanhamento de promessas será o principal entregável do projeto, com potencial de escalar no futuro.

  • Indiferente: iniciativas pontuais (como posts soltos) não geram impacto consistente e não serão priorizadas.

  • Luxo: campanhas offline e fóruns digitais foram considerados inviáveis no contexto atual, embora tenham relevância em cenários institucionais.

🧩 Mapas de Empatia

Após analisar as entrevistas no Affinity Diagram, percebi dois padrões de comportamento distintos entre os cidadãos:

  • Um grupo mais informado e crítico, com maior clareza sobre funções políticas.

  • Outro mais prático e popular, que se apoia em rádio, boca a boca e experiências pessoais.

Em vez de criar um mapa para cada entrevistado, consolidei esses padrões em dois Mapas de Empatia representativos: Cidadão Instruído e Cidadão do Povo.

O Mapa de Empatia foi escolhido por traduzir falas dispersas em algo visual e estratégico, organizando o que cada grupo vê, ouve, pensa, sente, fala/faz, dores e ganhos.

Esses dois mapas se tornaram a base para construir as personas e orientar soluções equilibradas entre simplicidade digital e acessibilidade tradicional.

👤 Personas

Depois da pesquisa qualitativa, ficou claro que não existia um único perfil de cidadão ao lidar com política local. Os entrevistados revelaram padrões distintos de comportamento, expectativas e dificuldades, que foram consolidados em duas personas-arquétipo.

A escolha por arquétipos (em vez de personas “tradicionais” com foto, idade e biografia fictícia) vem de uma visão mais prática: o objetivo é representar mentalidades e atitudes reais observadas na pesquisa, evitando distrações estéticas ou generalizações de grupos sociais.

Assim, nasceram duas personas que guiam o projeto:

💡 Resumo: Esses arquétipos não representam indivíduos específicos, mas sim padrões de comportamento e de relação com a política local. Eles guiaram as decisões de design para garantir que as soluções fossem acessíveis, simples e relevantes para os diferentes perfis de cidadãos.

🚶 Jornada do Usuário

Após consolidar os padrões no Affinity Diagram e nos Mapas de Empatia, ficou claro que o acompanhamento político segue trajetórias distintas entre os cidadãos. Para compreender melhor essas diferenças, construí Jornadas do Usuário para os dois perfis identificados: Cidadão Instruído e Cidadão do Povo.

O objetivo foi mapear ações, pensamentos, sentimentos, pontos de contato e oportunidades em cada etapa, revelando onde estão os principais atritos e onde o design pode gerar mais valor.

 

As jornadas mostram que:

  • O Cidadão Instruído tem acesso a muitas informações, mas sofre com excesso de dados, linguagem técnica e frustração pela falta de impacto real.

  • O Cidadão do Povo depende de canais informais (rádio, WhatsApp, conversas), mas enfrenta falta de clareza e confiança, o que leva à descrença no processo político.

Esses contrastes reforçam a necessidade de soluções simples, acessíveis e confiáveis, capazes de conectar informação oficial à realidade cotidiana dos cidadãos.

Abaixo, a representação visual dessas jornadas (print do Figjam):

🚀 Roadmap: próximos passos

Com a UX Research finalizada, o projeto segue agora para a fase de Design.

  1. Arquitetura da Informação → organizar fluxos principais.

  2. Wireframes → baixa e média fidelidade para validar usabilidade.

  3. UI Design → criação da identidade visual e protótipo navegável.

  4. Testes de Usabilidade → ajustes com base em feedback real.

  5. Entrega Final → protótipo validado e documentação visual.