Em Palmital/SP, percebi que muitos moradores confundem as funções do prefeito e dos vereadores. Poucos sabem exatamente o que cobrar de cada autoridade, e quase ninguém acompanha de forma sistemática as promessas feitas em campanha.
Essa lacuna de informação e engajamento cria um ciclo de desconfiança, apatia política e baixa participação cidadã.
População: 19 mil habitantes
Apenas 38% da população ocupada
Educação básica abaixo da média do estado (IBGE)
Isso é “estranho” porque o esperado seria: PIB per capita razoável → bons indicadores educacionais.
Mas Palmital mostra o contrário: tem economia relativamente estável, mas educação básica aquém da média, principalmente quando comparada a outros municípios de SP.
Isso reforça que o problema de compreensão política no seu projeto não está apenas no acesso à escola, mas:
No conteúdo da educação cívica (que quase não existe na grade);
Na baixa retenção e qualidade no ensino fundamental II;
E no distanciamento entre aprendizado escolar e prática cidadã.
Compreender como os cidadãos de Palmital percebem a política municipal e identificar oportunidades de promover reeducação política, estimulando o engajamento e a participação cidadã.
Para organizar a pesquisa de forma estratégica, utilizei o framework 5W2H.
Escolhi essa ferramenta porque ela me permite criar uma visão clara e objetiva do projeto antes da coleta de dados, funcionando quase como um briefing expandido. Assim, consegui alinhar o que investigar, por que isso importa e como conduzir a pesquisa de forma pragmática.
Antes de coletar dados, formulei algumas hipóteses com base em observações de campo, desk research e análise do contexto local.
Levantar hipóteses foi fundamental porque estabeleceu um ponto de partida: não eram certezas, mas ideias a serem confirmadas ou refutadas pela pesquisa.
Essas hipóteses surgiram da combinação de diferentes fontes:
Observação local: conversas informais com moradores revelaram confusão sobre o papel de prefeitos e vereadores.
Dados secundários: pesquisas nacionais (IBGE, Datafolha, Atlas da Democracia) já apontam baixa confiança na política e pouco uso de canais oficiais.
Comportamento digital: a análise preliminar mostrou que redes sociais (WhatsApp e Facebook) são usadas com mais frequência do que sites institucionais.
Contexto socioeconômico: indicadores de renda e acesso limitado a tecnologia reforçaram a hipótese de que ferramentas simples e gratuitas seriam mais aceitas.
Com base nisso, levantei as seguintes hipóteses:
A população não entende claramente o que faz um prefeito.
A população não entende claramente o que faz um vereador.
Redes sociais são a principal fonte de informação política.
Existe baixa confiança nos políticos locais.
Ferramentas simples e gratuitas teriam alta aceitação.
Para transformar o problema em oportunidade de design, utilizei o framework How Might We (HMW).
Segundo a Interaction Design Foundation (IxDF), um bom HMW combina ação + usuário + resultado desejado, o que garante clareza e direcionamento para a ideação.
👉 “Como poderíamos ajudar os cidadãos de Palmital a compreender e acompanhar o trabalho do prefeito e vereadores de forma simples, acessível e confiável?”
Além desse enunciado central, explorei variações como:
Como poderíamos tornar claras as diferenças entre prefeito e vereadores?
Como poderíamos aumentar a confiança nas informações políticas locais?
Esse formato equilibra foco estratégico (um HMW principal) e amplitude exploratória (variações secundárias).
Para garantir uma visão ampla e confiável, utilizei uma abordagem mista, combinando métodos quantitativos e qualitativos. Essa estratégia equilibra padrões gerais (survey) com percepções profundas (entrevistas).
Quantitativo (Survey)
50 respostas coletadas.
12 perguntas sobre acompanhamento político, confiança e canais de informação.
Objetivo: mapear tendências e medir a extensão dos problemas percebidos.
Qualitativo (Entrevistas)
8 moradores entrevistados, com perfis variados em idade, ocupação e engajamento político.
Entrevistas semiestruturadas, permitindo explorar percepções além do questionário.
Segui a recomendação da Nielsen Norman Group, que destacam que 5 entrevistas já revelam a maioria dos padrões de comportamento.
A opção por 8 entrevistas foi intencional, buscando mais diversidade de perspectivas para enriquecer os insights.
Ferramentas utilizadas
Google Forms (survey),
Entrevistas presenciais na rua,
Figjam e Planilhas para análise e organização dos dados.
Para além das ferramentas digitais, realizei entrevistas presenciais com moradores de Palmital. Os registros abaixo (editados para preservar a identidade dos participantes) reforçam a aplicação prática da pesquisa.
Para organizar as falas das entrevistas e transformar dados dispersos em padrões claros, utilizei o Affinity Diagram.
Esse método me permitiu agrupar percepções semelhantes e identificar as dores mais recorrentes entre os moradores.
Veja no vídeo abaixo o processo completo de agrupamento — do caos inicial de post-its até a consolidação dos clusters principais.
Esse vídeo está demonstrando a construção do Mapa de Afinidade, no Figjam
O uso do Affinity Diagram trouxe clareza para pontos que já apareciam como hipóteses, mas agora foram confirmados com base nos dados:
Cidadãos confundem papéis de prefeito e vereador.
Existe uma desconfiança estrutural em relação à política local.
Poucos utilizam canais oficiais, preferindo rádio ou conversas presenciais.
Interfaces simples são condição essencial para engajamento.
Segmentos etários apresentam necessidades e barreiras diferentes.
Logo no início da pesquisa, levantei hipóteses para guiar a investigação. Após consolidar os dados com entrevistas e survey, pude verificar se essas hipóteses se confirmavam ou precisavam ser ajustadas.
Insight: Confirmada. Muitos entrevistados confundem os papéis de prefeito e vereador, evidenciando a necessidade de conteúdo educativo acessível.
Insight: Confirmada. A percepção de promessas não cumpridas apareceu em diferentes faixas etárias, reforçando que qualquer solução precisa trabalhar com transparência como valor central.
Insight: Confirmada e ampliada. Além de poucos acessarem o site da prefeitura (12%), descobri que rádio e conversas locais são meios muito mais presentes no dia a dia.
Insight: Parcial. Jovens mostraram abertura para apps, mas adultos foram mais céticos e idosos preferiram canais tradicionais.
💡 Nota importante: Dentro do escopo deste projeto, não é viável investir em soluções offline (como materiais impressos ou campanhas em rádio) devido a limitações financeiras e de execução. Portanto, optei por focar em soluções digitais que atendam principalmente os jovens e adultos mais conectados, sem ignorar que o desafio da acessibilidade para idosos segue sendo um ponto crucial em cenários reais.
Após consolidar hipóteses e insights das entrevistas, precisei escolher quais soluções realmente valiam o investimento de tempo e energia dentro da realidade do projeto (individual e sem orçamento).
Essencial: campanhas simples em redes sociais, distribuição no WhatsApp e um checklist em PDF são soluções rápidas e de alto retorno imediato.
Estratégico: o protótipo no Figma para acompanhamento de promessas será o principal entregável do projeto, com potencial de escalar no futuro.
Indiferente: iniciativas pontuais (como posts soltos) não geram impacto consistente e não serão priorizadas.
Luxo: campanhas offline e fóruns digitais foram considerados inviáveis no contexto atual, embora tenham relevância em cenários institucionais.
Após analisar as entrevistas no Affinity Diagram, percebi dois padrões de comportamento distintos entre os cidadãos:
Um grupo mais informado e crítico, com maior clareza sobre funções políticas.
Outro mais prático e popular, que se apoia em rádio, boca a boca e experiências pessoais.
Em vez de criar um mapa para cada entrevistado, consolidei esses padrões em dois Mapas de Empatia representativos: Cidadão Instruído e Cidadão do Povo.
O Mapa de Empatia foi escolhido por traduzir falas dispersas em algo visual e estratégico, organizando o que cada grupo vê, ouve, pensa, sente, fala/faz, dores e ganhos.
Esses dois mapas se tornaram a base para construir as personas e orientar soluções equilibradas entre simplicidade digital e acessibilidade tradicional.
Depois da pesquisa qualitativa, ficou claro que não existia um único perfil de cidadão ao lidar com política local. Os entrevistados revelaram padrões distintos de comportamento, expectativas e dificuldades, que foram consolidados em duas personas-arquétipo.
A escolha por arquétipos (em vez de personas “tradicionais” com foto, idade e biografia fictícia) vem de uma visão mais prática: o objetivo é representar mentalidades e atitudes reais observadas na pesquisa, evitando distrações estéticas ou generalizações de grupos sociais.
Assim, nasceram duas personas que guiam o projeto:
💡 Resumo: Esses arquétipos não representam indivíduos específicos, mas sim padrões de comportamento e de relação com a política local. Eles guiaram as decisões de design para garantir que as soluções fossem acessíveis, simples e relevantes para os diferentes perfis de cidadãos.
Após consolidar os padrões no Affinity Diagram e nos Mapas de Empatia, ficou claro que o acompanhamento político segue trajetórias distintas entre os cidadãos. Para compreender melhor essas diferenças, construí Jornadas do Usuário para os dois perfis identificados: Cidadão Instruído e Cidadão do Povo.
O objetivo foi mapear ações, pensamentos, sentimentos, pontos de contato e oportunidades em cada etapa, revelando onde estão os principais atritos e onde o design pode gerar mais valor.
O Cidadão Instruído tem acesso a muitas informações, mas sofre com excesso de dados, linguagem técnica e frustração pela falta de impacto real.
O Cidadão do Povo depende de canais informais (rádio, WhatsApp, conversas), mas enfrenta falta de clareza e confiança, o que leva à descrença no processo político.
Esses contrastes reforçam a necessidade de soluções simples, acessíveis e confiáveis, capazes de conectar informação oficial à realidade cotidiana dos cidadãos.
Abaixo, a representação visual dessas jornadas (print do Figjam):
Com a UX Research finalizada, o projeto segue agora para a fase de Design.
Arquitetura da Informação → organizar fluxos principais.
Wireframes → baixa e média fidelidade para validar usabilidade.
UI Design → criação da identidade visual e protótipo navegável.
Testes de Usabilidade → ajustes com base em feedback real.
Entrega Final → protótipo validado e documentação visual.